Novo bispo de S. José prega Igreja mais perto das pessoas, inspirada no papa Francisco

Confira a Entrevista do novo Bispo da Diocese de São José dos Campos para o Jornal OVALE
Da caatinga para a tecnologia. Dom José César Teixeira, 61 anos, assumiu ontem a Diocese de São José dos Campos depois de passar cinco anos em Bom Jesus da Lapa (BA), uma das maiores e mais carentes dioceses do Nordeste.
Enfrentado lá a seca, pobreza e falta de estrutura, dom César ressalta as melhores condições de trabalho em São José, mas lembra que a fé não depende de dinheiro.
“Não é questão de riqueza e pobreza, mas de decisão pessoal que passa por uma decisão de família”, diz o bispo.
“Na Lapa, o povo tem uma fé profunda, que apesar das dificuldades coloca em Deus a sua esperança.”
Nascido em Rio do Sul (SC), dom César não nega a raiz gaúcha. Trouxe na mala a cuia e a bomba para fazer o chimarrão e quer achar o “melhor mate” na cidade.
Apaixonado por esportes e torcedor do Grêmio, o bispo pretende trabalhar perto dos jovens e das famílias, e garante que quer contato com o povo.
“Gosto de ter essa proximidade com as pessoas. Faz parte da minha forma de ser. E quero ser especialmente um bispo reconhecido pelos jovens, pelas famílias. Ser um animador dos animadores.”
Leia a seguir a entrevista que dom César concedeu com exclusividade a O VALE.

Qual a expectativa do senhor para a Diocese de São José?Estou chegando numa outra realidade, numa região privilegiada, com uma Igreja bastante forte e viva, muito conhecida no país pelos seus padres, religiosos e leigos, e a sua estrutura. A economia, cultura e tecnologia marcam a região. Minha expectativa é a melhor possível, pois venho ser um animador dos animadores. Meu lema é "Somos de Deus" e vou encontrar muita gente que vai dizer comigo essa mesma frase de São João.

O lema no plural revela que o sr. quer descentralizar o governo?A frase está na carta de São João. Não é no particular. Claro que o particular que se soma chega ao plural. Mas o “nós” significa comunidade de fé, cristãos, batizados. Gosto de um governo participativo, sempre foi meu jeito de ser desde padre. Conto com a participação de muita gente. Quando a gente junta as pessoas, o trabalho fica mais leve, avançamos mais e erramos menos. Espero contar com muita cooperação e participação, para que o plural de São João seja verdadeiro.

Tem algum projeto em vista?Ainda não. Estou chegando, quero saber com quem vou contar, conhecer as forças vivas da Diocese. Vou continuar o que se vem fazendo.

Vai visitar as paróquias?Vamos passar em todas as paróquias e escutar todas as comunidades. É para isso que existem as visitas pastorais. Vou fazer uma programação e vamos chegando. Aonde houver gente, lá vai chegar o bispo.

Quando pretende começar as visitas?Depois que passar uns três meses, de conhecer o pessoal da cidade e vencer a agenda que já está pronta, que foi feita pelo administrador diocesano e o clero. Vou cumprir a agenda e ir programando as atividades pastorais.

As realidades sociais e econômicas entre Lapa e de São José são bem diferentes. Isso muda a receptividade à evangelização?Depende muito da índole das pessoas. Mesmo aqui no Sul, temos muitos pobres e nem sempre são muito de Deus. Não é questão de riqueza e pobreza, mas de decisão pessoal. É claro que Jesus apresenta a figura do jovem rico, que não quis deixar a sua riqueza para segui-lo. É decisão pessoal, que passa por uma decisão de família.

E a importância da família?Hoje o grande desafio da Igreja é a evangelização da família. Temos pais muito religiosos e os filhos que, por uma série de motivações, não vivem mais com tanta certeza a fé dos pais. Meu trabalho será o fortalecimento da fé.

Os país devem obrigar os filhos a frequentar a Igreja?Não vejo nada de positivo em obrigar, mas deve-se criar consciência. Tem certa idade que o pai e a mãe devem ajudar a criança a desenvolver a fé. Se deixarmos no “cada um faz o que quer” não se sabe o que vai colher mais tarde. Quem ama de verdade seus filhos, dá a eles não só o leite materno, mas passa também a fé, que é um valor absoluto da nossa vida.


Como fazer que as paróquias sejam mais missionárias, como pediu o papa Francisco?Vou conhecer a situação daqui. Mas isso é uma necessidade que as paróquias se alarguem. O papa Francisco diz que é preciso “sair de dentro de casa”. Podemos ter igrejas cheias de pessoas e ruas vazias de Deus. Tem que equilibrar. Que as pessoas que celebram conosco a fé, sejam anunciadoras dessa fé em seu trabalho, na sua rua, na sua família. Não só celebrar dentro, que é essencial, mas também proclamar fora.

O senhor se preocupa em perder ou ganhar fieis?Não. É preciso ficar com quem está convencido ou que vai se convencer.

As eleições serão um tema tratado na diocese?Temos que trabalhar na consciência das pessoas. Eu perdi o prazo para transferir o meu título de eleitor, o que gosto de fazer [votar na cidade]. Temos problemas sérios em relação ao futuro da nação, não só do ponto de vista administrativo, mas de consciência da cultura. Estão entrando ideias problemáticas do ponto de vista do Evangelho e da fé. Vamos esclarecer os eleitores, porque cada um é livre na sua opção. O bispo e a Igreja não têm partido. Temos opções evangélicas, e vamos propor essas opções e dizer às pessoas que fiquem com os candidatos que têm a opção evangélica, a da palavra de Jesus, sem dizer que os outros não prestam.

O senhor está preocupado com os protestos?Não estou a par da situação em São José, mas vejo que o povo está descontente com muita coisa. E também há grupos infiltrados nas manifestações com intenções para além das reclamações, legítimas e justas da população, que podem distorcer as coisas. Me preocupo com a violência.

O povo perdeu a paciência?Sim. Ele vê que existem recursos enormes usados para muitas coisas e não vê esse dinheiro para as necessidades básicas, como transporte público, saúde, educação. Isso me preocupa muito. Tenho receio da violência e até do linchamento que está ocorrendo, da justiça pelas próprias mãos. Daí, a sociedade voltará à barbárie.

O senhor é especialista em História da Igreja. Que significado tem o papa Francisco?Foi uma graça de Deus para nós. Eu o conhecia quando ele era cardeal. Me encontrei com ele algumas vezes em Buenos Aires, e já lá percebi que era um homem especial. Um homem de Deus, que serve, anda com pessoas humildes, e veio na hora certa para a vida da Igreja. Ele é um papa latino-americano. É um papa certo na hora certa. Basta citar as milhares de pessoas que estão indo ao Vaticano para vê-lo. Ele vai ser uma figura que marcará profundamente a Igreja.

Saiba mais
CarreiraDom José César Teixeira nasceu em 1° de março de 1953, em Rio do Sul (SC). Foi ordenado sacerdote em 9 de dezembro de 1979. A nomeação episcopal ocorreu em 28 de janeiro de 2009, assumindo a Diocese de Bom Jesus da Lapa (BA)

EstudosFilosofia na Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena e teologia na Studium Theologicum da Pontifícia Universidade Católica de Curitiba (PR). Tem especialização em História da Igreja, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, na Itália

LemaComo bispo, adotou o lema episcopal: “Somos de Deus”

DioceseA Diocese de São José tem 44 paróquias, 80 padres, 110 diáconos permanentes, 63 pastorais e movimentos



Aparecida inspirou o papa, diz bispo
Dom César Teixeira disse que o papa Francisco tem “um amor imenso pelo Brasil” e revelou uma conversa que teve com alguns bispos que estiveram com ele em Aparecida, em 2013. “Me disseram que a viagem a Aparecida foi uma marca tão forte nele, que modificou a pessoa dele. Esse carinho e proximidade com o povo que ele tem”, contou.

“Gosto muito de esporte”, diz bispo
O novo bispo de São José, dom César Teixeira, é torcedor do Grêmio --“azul, porque roxo está do outro lado [Internacional]-- e amante de esportes. “Fui um grande esportista e jogava de centroavante ou de meia esquerda. Também jogava outros esportes, como vôlei e natação”, disse. “Mas estou decepcionado com o excesso de dinheiro no futebol”.

Fonte : ovale.com.br
 

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