Cuidado com as ideologias mundanas

Não, Cristo não foi morto pelo Estado. Não, Cristo não lutou pelas liberdades individuais e nem pelas minorias. Não, Cristo não defendeu que bandido bom é bandido morto. Cristo veio nos salvar do pecado e nos dar uma nova vida, não batizar sua ideologia preferida.



  "As ideologias terminam mal, não servem. As ideologias tem uma relação ou incompleta ou doente ou ruim com o povo. As ideologias não assumem o povo. Por isto, olhem para o século passado. Em que terminaram as ideologias? Em ditaduras, sempre, sempre. Pensam pelo povo, não deixam ao povo pensar. Ou, como dizia aquele crítico da ideologia, quando lhe disseram, "sim, porém estas pessoas têm boa vontade e querem fazer alguma coisa pelo povo" - "sim, sim, sim, tudo pelo povo, porém nada com o povo". Estas são as ideologias".

Papa Francisco
Discurso à sociedade civil
Assunção - 11.07.2015 -

Cristo não era conservador, não era liberal, não era socialista e nem comunista. Ele era homem e era também Deus. Ele é o Verbo que criou o mundo e não o autor de algum manifesto sobre desobediência civil. Não batizem ideologias. Não batizem Cristo. Deixem-se ser batizados por ele.

Quando declaramos o credo apostólico e dizemos crer no Deus pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, quer dizer exatamente isso e não o contrário. Cremos no Deus todo-poderoso, criador da realidade existente e capaz de criar qualquer outra realidade possível. Não cremos no Deus do socialista, nem do liberal ou do conservador. O Deus das Sagradas Escrituras é bem maior do que o deus deles.

O Cristo bíblico é conservador demais para ser revolucionário e revolucionário demais para ser conservador. Ele é liberal demais para ser estatista e é estatista demais para ser liberal. O Cristo redentor, o salvador da humanidade, o cabeça da Igreja não é um militante político. Embora ele tenha o costume de salvar alguns militantes, ele não tem a pretensão de agradá-los. Ele não veio trazer a paz, mas a espada. Ele veio trazer unidade entre os seus e separa-los dos outros (Mt 10:34, 35). Ele não veio para falar sobre algum golpe e nem para falar que algum senhor filósofo tem razão. Ele não veio pedir menos Marx e mais Mises, ele veio virar o nosso reino de cabeça para baixo.

Quer ser servido? Sirva. Quer ser o primeiro? Seja o último. Que ser grande? Seja pequeno (Mt 20:25, 28). Bem-aventurados os que choram, os que tem fome e sede de justiça, os pobres de espírito… (Mt 5:1, 11)

Sim, Cristo se importa com os pobres, da mesma forma que se importa com os ricos. Ele se importa com a propriedade privada, da mesma forma que ele se importa com que ninguém passe necessidade. Ele se importa que você cumpra as leis do Estado, da mesma forma que ele espera que o Estado não ocupe o lugar dEle. Um cristão deve ser dominado pelo Evangelho a tal ponto que não se satisfará com nenhuma ideologia terrena. Ele estará tão fascinado pela realidade do evangelho, que não ligará para nenhuma possibilidade ideológica.

Em tempo, não serei utópico e afirmarei que seja possível alguém viver livre de ideologias, no entanto, é possível sim, tentar fugir delas. Somos falhos e vamos sim nos aconchegar em algum lado da moeda, não há como fugir, mas nunca faça de um lado da moeda o seu lar. Nós não somos parte do reino desse mundo. Nós não somos parte desse mundo, nós estamos aqui de passagem, como meros estrangeiros.

Não seremos a diferença na sociedade enquanto nos parecermos com ela. Só seremos a diferença na sociedade quando ela conseguir distinguir o “nós” do “eles”. Enquanto formos todos iguais, nada de diferente acontecerá. Contudo, no momento em que ousamos ser diferentes do mundo e iguais a Cristo, aí sim as coisas começam a mudar (Jo 13:34; 17:11).

Continua em curso uma grande batalha entre as ideologias do mundo e os ideais cristãos. Muitos não percebem, distraídos pelo consumismo, o hedonismo, o culto a si mesmos, os prazeres sexuais, etc.

É mais que um embate ideológico. É também uma batalha espiritual cuja mística poucos enxergam. Tudo está interligado. Trata-se de uma peleja espiritual, travada no campo das idéias e que reflete diretamente na vida prática de todos, individualmente ou em sociedade.

Desde o início deste milênio cresceram as tentativas de sobrepujar os valores cristãos às ideologias mundanas. Não que antes estivesse fácil. Mas, nesses quinze anos, é notável o tamanho dessa onda tentando nos afogar.

Eis o que deseja o mundo:

- a desvalorização da vida, disfarçando as modalidades de assassinato: aborto, eutanásia, pena de morte, etc.

- a ridicularização da espiritualidade cristã: cujo objetivo é afirmar que Deus não existe, reduzindo Jesus Cristo a um hippye fofinho, fazendo piada de qualquer traço de santidade que exista no mundo, desprezando tudo que é sagrado na religiosidade do povo, etc.

- o desvirtuamento dos valores humanos mais básicos: saem a honestidade, o domínio de si mesmo, a simplicidade da vida, o esforço pessoal (meritocracia), o altruísmo (colocar o bem dos outros acima do bem pessoal), etc; entram o sucesso a qualquer custo, a entrega irresponsável aos impulsos sexuais e físicos em geral, a ostentação econômica, o favorecimento corrupto (vantagem pessoal), o individualismo ("que se danem todos, eu quero o que for melhor para a minha vida"), astrologia, idolos, etc.

- a distorção das bases antropológicas e das leis naturais: acabando com o conceito de Família, colocando no mesmo patamar o Matrimônio (religioso) e a união de pessoas do mesmo sexo (casamento civil), incentivando à não reprodução ("filhos dão despesa demais e tiram a liberdade pessoal"), permitindo que cada um "escolha" o que deseja ser: homem, mulher, gay, lésbica, travesti, transgênero, paca, tatu, cotia, etc (embora o espelho e a biologia possam dizer o contrário).

Há disso e muito mais nessas campanhas, com afirmações sem embasamento algum e frases disfarçadas de politicamente corretas ou democráticas.

Os valores cristãos são contrários a todos os expostos acima. Há razões sólidas, experimentadas, provadas e comprovadas, para as resoluções que temos e vivemos. Os cristãos conscientes não podem se acovardar. É preciso nadar contra a corrente, enfrentar as ondas. Sem ódio, mas também sem medo.

É necessário ser tolerante com os intolerantes. Sim, acusam os cristãos de intolerância mas não demonstram a mínima boa vontade para um diálogo honesto. Pedem compreensão e "direitos", mas não procuram entender o modo como vivemos a nossa fé e desrespeitam o nosso direito de proclamar os valores nos quais fundamentamos a nossa existência.

Aviso aos navegantes: não desistiremos da nossa fé. Não deixaremos de falar nela. Não pararemos de confrontar as ideologias mundanas. Continuaremos mostrando que há outro caminho, vivido por muitos há mais de dois mil anos, muitíssimo melhor que as "novidades" do mundo: o caminho de Jesus Cristo e da sua Igreja.

Fonte : Cancão Nova / https://ultimato.com.br/ / https://www.itu.com.br/

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