Adolescentes: compreendê-los para ajudá-los a crescer

Normalmente, os pais temem a chegada da adolescência. Fase conhecida como difícil, em que os filhos se tornam mais combativos, menos dóceis às determinações, mais preguiçosos, enfim, uma etapa da vida dos filhos que traz vários desafios ao relacionamento familiar.





Muito embora seja realmente uma etapa de grandes mudanças, precisamos sair do jargão comum da “aborrecência” e entendermos o que está acontecendo nessa fase do desenvolvimento dos nossos filhos para podermos ajudá-los da melhor maneira possível.

A adolescência é uma etapa em que ocorrem muitas mudanças. Trata-se de uma de transição entre a infância e a vida adulta. O adolescente vive a crise de se transformar de uma criança dependente e cuidada por seus pais, em um adulto autônomo capaz de conduzir com liberdade a própria vida. Essa etapa é marcada por muitas mudanças fisiológicas e orgânicas, próprias da puberdade, que acontecem rapidamente – crescimento do corpo, maturação sexual, aumento da estatura e outras que nem sempre se manifestam com a mesma rapidez, como a estabilidade dos sentimentos. Ou seja, o corpo se transforma rapidamente e o adolescente precisa a ele se adaptar, sem, no entanto, ter uma maturidade afetiva para isso. As mudanças físicas dão início a um processo importante de formação da identidade pessoal, mas, para que isso aconteça, o adolescente encontra vários desafios: o desaparecimento de alguns vínculos que foram estabelecidos na infância, a impaciência por mais autonomia social, a insegurança de viver sem tanta proteção da família de origem em algumas situações, o medo diante das expectativas sociais, enfim, são muitas as mudanças a serem elaboradas nesse processo de construção de uma identidade pessoal que se inaugura na adolescência. O adolescente está em processo de amadurecimento para assumir as responsabilidades próprias da vida adulta – e essa não é uma tarefa fácil.

No início da adolescência, mais ou menos aos 13 anos, o adolescente se encontra numa etapa de imaturidade enorme e não podemos tratar essa condição como um retrocesso no processo de desenvolvimento, mas, como diz Castillo Ceballos, em “El adolescente y sus retos”, trata-se de um pedágio desse desenvolvimento.

O mesmo autor relata que nessa idade é comum que sejam imprevisíveis em suas reações, impacientes – querem tudo imediatamente, quando se frustram, costumam se afundar em seus sentimentos, são mais capazes de falar do que de fazer, de protestar do que resolver, são seres mais de desejos do que de esforços, tendem ao fácil. Costumam ser desordenados (com horários e planejamentos), pessimistas e incoerentes (não fazem o que dizem). Dessa condição inicial, imatura, precisam caminhar em busca da maturidade, esse é um grande desafio, que precisa ser enfrentado por toda a família. Afinal, eles só alcançarão essa maturidade por meio de um processo educativo comprometido.

Pais, compreendam: a desobediência do adolescente não tem o mesmo caráter da desobediência infantil. Na adolescência, custa-lhes mais obedecer porque estão empenhados em se tornar grandes, ou seja, estão buscando ter mais autonomia, porém, encontram muita dificuldade de fazerem isso se continuam na dependência das determinações dos pais. Para que alcancem a capacidade de viverem por si mesmos, precisam criar uma distância do olhar protetor dos pais, precisam questionar a validade dos limites e regras estabelecidos por estes. Os adolescentes nessa etapa inicial também são extremos em suas percepções e, portanto, buscam a independência e querem não ter regra alguma que limite sua almejada “liberdade”, mas ainda a associam à satisfação de seus desejos.

Para que possamos ajudá-los a ganhar uma maturidade efetiva, é preciso conhecermos esses desafios que se impõem e compreendermos que não se trata de um comportamento contra a família ou os pais, mas, sim, de uma crise de crescimento que precisa de um manejo adequado, de um direcionamento mais sutil. É preciso que os pais mudem a conduta com os adolescentes e que abram possibilidades de exercício da autonomia social, da liberdade de escolha, porém, tudo isso com um olhar atento e orientador. É fundamental encontrar uma medida – não se pode controlar tudo o que faz o adolescente, mas não podemos abandoná-lo à sua imaturidade e crise de crescimento sem nenhum amparo.

O processo de crescimento das crianças rumo à vida adulta precisa ser um progressivo de aumento da capacidade de compreender, realizar, decidir e arcar com as consequências das decisões, ou seja, de crescer na autonomia em seus diversos aspectos: autonomia de execução, de decisão e de análise sobre as circunstâncias.

Ao longo da primeira infância, a criança cresce em autonomia de execução (é progressivamente capaz de guardar seus próprios brinquedos e pertences, de tomar banho sozinha, de trocar de roupa, de contribuir com pequenas tarefas no lar…), mas, os pais, como adultos, precisam tomar para si os papéis de análise das circunstâncias e decisão do melhor a ser feito. Nesse processo, ensinam limites, critérios, valores e virtudes para seus filhos.

Conforme as crianças passam para outra etapa da infância, é preciso ir aumentando as oportunidades de que exercitem a autonomia de análise e de escolha. Os adultos sempre precisam definir quando é possível e educativo que elas escolham.

Existem alguns critérios importantes para isso: o assunto a ser decidido; a gravidade da consequência no caso de uma má escolha; e a capacidade da criança de realizar alguma análise sobre tal assunto.

Dos 7 aos 11 anos, a criança já possui uma racionalidade mais lógica e temporal, o que a ajuda na realização de um movimento de análise um pouco mais amplo. No entanto, ainda é fundamental que os pais conversem com os filhos, ajudem-nos a pensar e considerar as consequências e, depois, é preciso deixá-los arcar com as consequências da escolha, pois esse é um passo importantíssimo de aprendizagem.

Quando a criança vai sendo acompanhada nesse caminho de crescimento, ganha gradativamente virtudes importantes: a temperança, a ordem, a prudência, a obediência, enfim, é preparada para a próxima etapa: a adolescência.

Na adolescência, é necessário manter esse processo de crescimento das autonomias: aumentam as oportunidades de autonomia de análise e de decisão. Não podemos perder de vista, no entanto, que ainda estão em tempo de treino dessas habilidades. Por isso, é tão importante os pais os acompanharem de perto, conversarem, promoverem reflexões e definirem quando estão aptos ou não para decidir.

No processo de treino, existem idas e vindas. Por vezes, deixamos que decidam sobre algo num determinado momento, mas em outro precisamos impedir que protagonizem a decisão – tudo dependerá da maturidade que apresentem no processo. Para que vocês, pais, percebam isso, só existe uma fórmula: ouçam os argumentos de seus adolescentes, entendam suas análises, promovam conversas e leituras edificantes e sejam presentes na vida deles.

Ouço muitos pais de adolescentes dizendo: “Não adianta, ele não larga o celular; não escuta o que falo; não quer almoçar quando chamo; fica até de madrugada na internet…” Agora, pensem: quem deu autonomia para que decidissem sobre esses assuntos? Quem é a autoridade sobre eles? A autoridade se mantém com a força da coerência, do exemplo de vida, do comprometimento com os filhos, da admiração que se desperta neles. Será que vocês estão conseguindo exercer essa autoridade sobre os adolescentes ou estão simplesmente admitindo que “eles são assim mesmo, não há o que fazer”?

Várias estratégias são muito boas para ajudar os adolescentes a amadurecerem rumo à vida adulta:

  • Reuniões de família, nas quais cada um se posiciona sobre determinados assuntos, analisando-o o mesmo e se delibera em conjunto sobre o que será feito a respeito;
  • Cine debate em família, a partir de um filme interessante, que tematize assuntos importantes para essa etapa da vida. Assistam a ele juntos, promovendo depois um momento de conversa e análise sobre o filme;
  • Momentos de convívio com os amigos dos filhos na casa da família: jogos de tabuleiro, lanches aos finais de semana etc. Abrir a casa para os amigos deles é uma estratégia interessante para conhecer bem o grupo e promover experiências edificantes a todos;
  • Praticar esportes juntos.

Enfim, também na adolescência, os filhos precisam de muita ajuda dos pais para enfrentarem os desafios que se colocam nessa caminhada para a vida adulta. Não há receita pronta para isso. Cada filho é uma pessoa única, diferente, que demandará dos pais um olhar e uma atenção também diferentes.

Portanto, pais, cuidem dessa etapa da vida com toda atenção e carinho. É uma fase desafiadora, mas muito importante para a vida de seus filhos. Hoje, infelizmente, há muitos adolescentes perdidos, mal-orientados por estarem sendo conduzidos muito mais pelas redes sociais do que pelos valores familiares.

Fonte : https://osaopaulo.org.br/

Por Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro

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