A arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) orientou os fiéis católicos a não participarem de eventos promovidos pelo Centro Dom Bosco, depois que esta instituição “se autodeclarou sob a direção” da Fraternidade Sacerdotal São Pio X “e de ministros que a ela pertencem ou a suas comunidades amigas”.
A Associação Civil Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, conhecida como Centro Dom Bosco, é uma associação de leigos que “se reúnem para rezar, estudar e defender a fé”, diz o seu site oficial. Afirma ter a missão de “ajudar a resgatar a bimilenar Tradição da Igreja por meio de livros, aulas e iniciativas apologéticas”.
Em nota publicada ontem (16) e assinada pelo delegado episcopal para a atenção pastoral dos grupos de fiéis que celebram o rito romano segundo o missal anterior à reforma de 1970, monsenhor André Sampaio de Oliveira, a arquidiocese do Rio ressalta que, “embora sua sede civil se localize na cidade do Rio de Janeiro, o Centro Dom Bosco não possui qualquer vínculo ou reconhecimento eclesial na arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro”. “Seus Estatutos jamais foram apresentados para reconhecimento ou aprovação às autoridades eclesiásticas competentes locais, configurando-se como mera associação constituída segundo o direito civil brasileiro, mas sem qualquer status canônico oficial”, acrescenta.
A nota da arquidiocese foi publicada por causa de algumas “recentes declarações públicas” do Centro Dom Bosco, como a divulgação do VIII Fórum Nacional da Liga Cristo Rei, promovido pela associação nos dias 23 e 24 de agosto no Rio de Janeiro, “colocando-se publicamente sob a direção espiritual da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e sacerdotes a ela pertencentes (ou pertencentes a suas comunidades amigas)”.
A Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) é uma sociedade sacerdotal tradicionalista canonicamente irregular criada pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre em 1970. Em sua nota, a arquidiocese do Rio destaca que a FSSPX “ostenta sérias oposições em matéria de obediência à autoridade de todos os papas exercida desde o Concílio do Vaticano II, bem como oposições às próprias diretrizes do mesmo Concílio”. Recorda ainda que Lefebvre morreu “na condição de publicamente excomungado, por ato considerado pela Santa Sé como cismático de ordenar quatro bispos sem mandato pontifício no ano de 1988”.
Aproximação com a Fraternidade São Pio X
O Centro Dom Bosco divulgou em suas redes sociais a realização do VIII Fórum Nacional da Liga Cristo Rei, destacando que uma das novidades deste ano é a “presença de padres ligados à Fraternidade Sacerdotal São Pio X”, que estarão “palestrando, atendendo confissões e celebrando a missa de sempre”, como se referem à missa no rito romano anterior à reforma do Concílio Vaticano II. Os padres que estarão presentes são: os da FSSPX, dom Lourenço Fleichman e dom Estêvão F. da Costa; o padre Wander de Jesus Maia, da diocese de Santo Amaro (SP), e padre Françoá Costa, da diocese de Anápolis (GO), ambos que anunciaram a aproximação com a FSSPX neste ano
Na publicação em suas redes sociais sobre a o Fórum Nacional da Liga Cristo Rei, o Centro Dom Bosco diz que, “o papa Paulo VI, em seu discurso de encerramento do Concílio Vaticano II, a 7 de dezembro de 1965, ofereceu um ‘remédio’ ao mundo moderno — mas um remédio que, em vez de curar, intoxicou ainda mais a alma da civilização”. “Não propôs a correção dos erros, enganos e vaidades do homem moderno, mas o encorajou a perseverar em seu humanismo sem Deus. Um verdadeiro veneno”, afirma o CDB, acrescentando que, “diante dessa realidade alarmante — e inesperada da parte de um Sumo Pontífice —, homens de Deus como monsenhor Marcel Lefebvre escolheram seguir um outro caminho, ou melhor, o caminho de sempre: não a religião do homem que se faz deus, mas a religião do Deus que se fez homem”.
O CDB, então, convida as pessoas a participarem do evento e a se juntar “em defesa do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, fiéis ao mandato apostólico de transmitir, sem adulterações, a fé recebida”.
Crítica ao Catecismo da Igreja Católica
A nota de esclarecimento da arquidiocese do Rio de Janeiro citou outra medida recente do Centro Dom Bosco, “como resultado de seguir de perto” as “oposições da Fraternidade Sacerdotal São Pio X”, a publicação de “uma tradução de obra do autor inglês Michael Haynes denominada ‘Os Erros do Catecismo Moderno’ (‘A Catechism of Errors’), em que são expostas críticas indevidas ao atual Catecismo da Igreja Católica, justamente em pontos em que este último consagra as decisões e diretrizes assumidas pela Igreja Católica por ocasião do Concilio Vaticano II”.
A arquidiocese ressalta que o atual Catecismo “aprovado em 1992 e teve sua publicação ordenada por Sua Santidade São João Paulo II expressamente em virtude de sua autoridade apostólica”
Sobre o livro Os Erros do Catecismo Moderno, a nota destaca que seu prefácio foi escrito pelo arcebispo italiano Carlo Maria Viganò, “também excomungado pela Santa Sé desde julho de 2024 por suas opiniões gravemente problemáticas, considerado culpado do delito canônico de cisma por sua recusa pública de reconhecer e submeter-se ao Sumo Pontífice, de manter a comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos e de aceitar a legitimidade e autoridade magisterial do Concílio Ecumênico Vaticano II”.
Por fim, a arquidiocese do Rio enfatiza que, enquanto a Fraternidade Sacerdotal São Pio X “não tiver uma posição canônica legítima na Igreja, também os seus ministros não exercem ministérios legítimos na Igreja”. Por isso, “os fiéis católicos devem abster-se de participar das atividades promovidas por tal Fraternidade ou por associações jurídica ou espiritualmente a ela vinculadas, como é o caso agora do Centro Dom Bosco”, completa.
Fonte : ACI Digital
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