Padre é acusado à polícia de não dizer nome não-cristão da criança em batismo no Rio de Janeiro

Um casal denunciou à polícia o padre Wagner Augusto de ter se recusado a falar o nome escolhido para a filha deles: Yaminah. Antes do batismo celebrado no último dia 16 na paróquia Santos Anjos, no Leblon, Rio de Janeiro (RJ), o padre tinha orientado os pais dizendo que o nome não era cristão.


Segundo os pais, o padre teria evitado dizer o nome por considerá-lo ligado a tradições afro-brasileiras.

“O nome foi dito nos momentos que lhe eram devidos, sem exceção”, disse o padre Alan Galvão, assessor de imprensa da arquidiocese do Rio de Janeiro, à ACI Digital. “O Batismo celebrado foi válido, realizado de acordo com as normas litúrgicas da Igreja”.

David Fernandes e Marcelle Turan, pais da criança, relataram ao portal G1 que o padre Wagner conversou com eles antes da cerimônia e disse que o nome Yaminah estava ligado a um culto religioso. Segundo o casal, ele sugeriu falar na cerimônia o nome Maria Yaminah, mas o casal não aceitou.

“A orientação do padre foi um ato de caridade e cuidado pastoral, ajudando a família a compreender a importância do nome na vida cristã e evitando possíveis confusões litúrgicas”, explicou o padre Galvão. “Mesmo que o nome tivesse origem ou significado não cristão, isso não impediria o batismo, como de fato não impediu”.

O nome Yaminah pode ser confundido com Yamins ou Iamins, termos associados a tradições afro-brasileiras, especialmente ao Candomblé, e que podem remeter a divindades ou entidades dessas práticas.

O Código de Direito Canônico, no Cânon 855, dispõe que “os pais, padrinhos e pároco cuidem para que não seja imposto nome estranho ao sentido cristão”.

O casal registrou o caso na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância como preconceito por raça, cor ou religião

“Questões jurídicas correm sob sigilo das autoridades competentes e, por isso, a arquidiocese não comenta esse tipo de informação”, disse . Ressaltamos, porém, a confiança no trabalho pastoral de nossos sacerdotes, sempre comprometidos com a fé e a dignidade de cada pessoa'".

O rito do batismo

“O Batismo é o primeiro sacramento da Igreja, porta de entrada da vida cristã, pelo qual nos tornamos filhos de Deus e membros da comunidade eclesial. Ele não é uma convenção social, mas um sacramento da salvação. Desde os tempos apostólicos, a Igreja acolhe cada criança como dom precioso de Deus, conforme o mandato de Cristo: ‘’Ide, fazei discípulos meus entre todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’”, diz o padre Galvão.

O batismo da Yaminah foi celebrado conforme o Ritual Romano do Batismo de Crianças, tradução oficial para o Brasil, segunda edição típica. “Nesse rito, o nome da criança é pronunciado em momentos específicos e solenes”, continua. “Logo no início, após a saudação inicial, os pais são interrogados sobre o nome escolhido. Em seguida, no rito do sinal da cruz, o sacerdote traça a cruz na fronte da criança pronunciando seu nome, acolhendo-a na comunidade cristã”.

“No momento central, antes da tríplice infusão da água, o celebrante pergunta aos pais e padrinhos: ‘Vocês querem que Yaminah seja batizada na fé da Igreja que todos juntos acabamos de professar?’ Os pais e padrinhos respondem: ‘Queremos’. Logo em seguida, o sacerdote pronuncia novamente o nome da criança e realiza o Batismo dizendo: ‘Yaminah, eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’. Em ritos complementares, como a veste batismal, o nome pode ser novamente citado”.

Em nota divulgada na segunda-feira (25), a arquidiocese disse que “o ritual foi seguido fielmente, com o nome desejado pela família sendo devidamente pronunciado e registrado no livro paroquial, bem como na lembrança de batismo entregue aos pais”.

Um vídeo que circula na internet mostra uma parte da cerimônia na qual o padre se refere a Yaminah como “a criança”. Segundo a mãe, ele falava “‘a criança’, ‘a filha de vocês. Ele não falava o nome dela de jeito nenhum. E no momento mais importante, que é quando você joga água na cabeça, você fala ‘eu te batizo, o nome da criança’, ele não falou”.

O padre Galvão explicou que o vídeo é um corte da cerimônia, e não aparecem todos os momentos do rito do batismo, como “o diálogo com pais e padrinhos, tampouco a parte central do sacramento. Por isso, a ausência de menção visível ao nome não significa que ele não tenha sido corretamente pronunciado”.

“A má interpretação do vídeo gerou confusão generalizada acerca do ritual do Batismo e do seu funcionamento. É importante que se compreenda que o rito segue normas precisas, que garantem tanto a validade do Sacramento quanto a clareza e a dignidade da celebração”, disse.

“Seguimos acompanhando a situação de perto, em diálogo com todos os envolvidos, certos de que a verdade e a serenidade prevalecerão. Reafirmamos que estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários”, concluiu o padre Galvão.

Fonte ACI Digital

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