Assisti a uma série esses dias, na qual a personagem, que trabalhava em um hotel, estendia as toalhas na mesa sorrindo. O colega dela a perguntou o porquê daquela satisfação toda. Ela então respondeu, que se fizesse com dedicação e amor, ninguém poderia substitui-la naquela tarefa, ninguém estenderia aquela toalha com o mesmo sentido que ela.
O ser humano sempre procurou compreender o propósito de sua vida e o significado de suas ações no mundo.
Dentro dessa busca, o trabalho ocupa um lugar privilegiado, pois nele o homem não apenas garante sua sobrevivência, mas participa ativamente da obra criadora de Deus.
Para o católico, o trabalho nunca deve ser reduzido a um peso econômico ou a uma exigência social, mas deve ser reconhecido como um caminho de santificação, de serviço ao próximo e de realização da própria identidade cristã no mundo.
A Sagrada Escritura já mostra no Gênesis que o trabalho está inscrito no plano divino. Deus colocou Adão no jardim do Éden “para o cultivar e guardar” (Gn 2,15), indicando que a vocação do homem inclui o cuidado e a transformação responsável da criação. Assim, o trabalho não é fruto do pecado, mas parte da dignidade original do ser humano.
Após a queda, é verdade que o labor se tornou fatigante e marcado pelo suor, mas em Cristo, que recapitula o homem e o seu todo, o trabalho é redimido e elevado, podendo ser vivido como participação no mistério da cruz e da ressurreição. São Paulo admoesta os cristãos dizendo: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3,10), recordando que o trabalho é expressão de responsabilidade e solidariedade na comunidade.
O Catecismo da Igreja Católica complementa e ensina que o trabalho existe para o homem e não o homem para o trabalho, e que ele pode ser um meio de santificação quando orientado para Deus. O valor do labor humano, portanto, não se reduz ao lucro ou à produção, mas se mede pela capacidade de realizar a pessoa em sua dignidade de filho de Deus.
Mas trabalhar é também servir.
Pelo seu esforço cotidiano, o cristão sustenta a família, contribui para a sociedade e coopera com o bem comum. Por isso, injustiças laborais, exploração e condições desumanas de trabalho não são apenas ofensas sociais, mas também espirituais, pois ferem a dignidade querida por Deus para seus filhos.
E é aí que entra a beleza da identidade católica no mundo globalizado se manifesta justamente na capacidade de mostrar que o trabalho não pode ser despersonalizado nem reduzido a um mecanismo de produção. O católico é chamado a testemunhar que o trabalho tem alma, tem sentido transcendente e pode ser vivido como caminho de santidade.
Buscar propósito no trabalho, portanto, não significa apenas encontrar satisfação pessoal, mas reconhecer que cada atividade humana pode ser oferecida a Deus como expressão de amor. Como ensina São Paulo: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para os homens” (Cl 3,23).
Dessa forma, o trabalho se torna parte integrante da identidade global do católico, que em qualquer lugar do mundo e em qualquer atividade que exerça, é chamado a ser sal da terra e luz no mundo!
Tenho experimentado, de maneira concreta, que se realizado com amor, justiça e dedicação, o trabalho se torna caminho de santidade, testemunho do Evangelho e expressão concreta da fé no cotidiano, para perseverança na vida de intimidade com o Senhor e, também, como expressão potencial de santidade comum para o mundo.
Fonte :
Ana Clara Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
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